O CHAMADO DAS FLORES: A INTERAÇÃO ECOLÓGICA ENTRE MORCEGOS E PLANTAS

Plantas tropicais refletem o som para que morcegos as encontrem mais facilmente. E assim começa uma interação que perpetuara várias gerações, que já duram milhões de anos.

Fonte da imagem: Ryan Somma, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons

VAMOS DESCOBRIR...

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A INTERAÇÃO DOS MORCEGOS E AS FLORES


O Glossophaga commissarisi, um minúsculo mamífero alado de corpo menor do que um polegar, paira entre as flores da Mucuna holtonii, sugando néctar como fazem beija-flores e abelhas. Em troca, ele poliniza a planta. Durante o dia, flores podem ostentar seus atributos através de cores fortes como escarlate e fúcsia. Porem, à noite, quando mesmo os matizes mais intensos esmaecem e ganham os tons prateados do luar, as flores da Mucuna recorrem ao som para se fazerem ouvidas por morcegos nectarívoros.

No início da noite, os botões da trepadeira se preparam para os morcegos. Primeiro, a pétala verde superior que recobre cada botão abre verticalmente, erguendo-se sobre o botão como um farol brilhante. Abaixo dessa pétala, duas pequenas pétalas laterais se abrem, revelando uma abertura no topo da vagem. A fenda exala um odor leve e sedutor de alho, um sinal de longa distância que atrai os servos alados da Mucuna em sua área de alcance.

ECOLOCALIZAÇÃO PARA OS MORCEGOS ACHAREM AS FLORES


Morcegos usam altas frequências como uma ferramenta. Com suas cordas vocais, eles emitem ruídos curtos e rápidos por suas narinas ou bocas, modelando as ondas sonoras e interpretando as mudanças de padrão no som que é refletido de volta até seus sensíveis ouvidos.

A informação recebida é processada de forma ágil e contínua, permitindo que os morcegos ajustem seu percurso em pleno voo enquanto perseguem um mosquito ou revoam com velocidade entre árvores floridas.

A maioria dos morcegos se alimenta de insetos e utiliza ondas poderosas e de longo alcance, propagadas a cada elevação de suas asas. Morcegos nectarívoros emitem sons suaves, mas sofisticados, aos quais cientistas se referem como frequência modulada.

Essas ondas priorizam os detalhes em detrimento da distância. Com maior eficiência em um raio de 4 metros, elas refletem imagens com informações precisas sobre tamanho, formato, posição, textura, ângulo, profundidade e outras características que só o morcego pode interpretar.

As cerca de 40 espécies da subfamília Glossophaginae são a esquadrilha de elite dos morcegos nectarívoros. Elas pertencem à família dos morcegos de nariz-de-folha do Novo Mundo, nativos dos trópicos e subtrópicos do hemisfério ocidental. Os ornamentos apresentados na região nasal oferecem um ajuste fino às sofisticadas emissões de ecolocalização dos animais.

MORCEGOS NECTARÍVOROS


Os morcegos nectarívoros desenvolveram uma parceria benéfica com certas famílias de plantas floríferas, definida por biólogos como quiropterofilia – de Chiroptera, a ordem dos mamíferos a que o morcego pertence, e philia, “amor” em grego. Contudo, essa não é uma história romântica. A razão de ser desse relacionamento não está na paixão, mas sim nas questões básicas da vida: sobrevivência e reprodução.

Trocar néctar por polinização é uma transação delicada e que traz um dilema para a planta. Para plantas de floração noturna, é interessante que a oferta de néctar seja econômica, pois morcegos bem alimentados visitam menos flores. Por outro lado, se a planta oferecer muito pouco, o morcego prestará seu serviço em outro local. Ao longo dos milênios, as plantas polinizadas por morcegos desenvolveram uma solução interessante: elas driblaram o problema da quantidade (e da qualidade) de néctar ao investirem na maximização da eficiência das visitas dos morcegos.

Assim, plantas que florescem à noite expõem suas estruturas em posições de destaque, acessíveis durante o voo – fáceis para os morcegos encontrarem e se alimentarem e longe do alcance de predadores arbóreos como cobras e gambás. Elas incrementam o odor de suas flores com compostos sulfúricos, um estímulo de longa distância irresistível para morcegos nectarívoros (mas não para humanos – o perfume dessas flores já foi descrito como algo pavoroso, lembrando repolho, couve-rábano e alho, ou ainda o cheiro de umidade, folhas caídas, leite azedo, urina podre, gambá, cangambá, carniça e cadáver).

UMA INCRÍVEL INTERAÇÃO DA NATUREZA


A criatividade da natureza não tem limites. Considere, por exemplo, o caso do morcego nectarívoro e a trepadeira de floração noturna cujas vidas se entrelaçam nas planícies de floresta tropical da América Central.

Sem os morcegos, provavelmente muitas dessas espécies de plantas entrariam em extinção, e infelizmente muitos morcegos são discriminados por terem uma fama de animais obscuros e "maus", por lendas urbanas e filmes, com isso muitos são mortos causando uma grande crise ecológica não somente para a flora, mas também para a fauna que eles também controlam populações de insetos e pequenos mamíferos, e lógico também para o homem.


2 comentários:

  1. gostaria de saber o nome do(s) autores das fotografias e se eles autorizam o uso dessas imagens em trabalho acadêmico.

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  2. Olá William siqueira,

    As fotos utilizadas nessa postagem foram retiradas do site da National Geographic, que são de domínio público, e claro que você pode usar em trabalhos acadêmicos, desde que referencie colocando que foram tiradas de da National Geographic.

    Um forte abraço,

    Equipe BioOrbis.

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